Crítica | Death Note vol. 6: é, a chatisse da Yotsuba continua

Mesmo não sendo o proprietário do Death Note, qualquer humano que o toque poderá ver e ouvir o shinigami que é seu dono original

Crítica do vol. 5

Neste segundo volume do arco Yotsuba, coisas acontecem e a trama se desenrola mais depressa, o que dá um peso na balança contra a chatisse que é quase tudo o que está acontecendo. Se você ler, provavelmente vai se pegar pensando “mas quando é que o Kira volta a ser o Kira?”, que é o sentimento geral que tenho para com os volumes 5 e 6.

Como de costume, os momentos mais interessantes são os que pouco têm a ver com o enredo do Terceiro Kira. Light teve um ato falho e demonstrou se importar mais com a morte de inocentes do que com a morte de criminosos, o que L percebeu e provavelmente colocou na lista de evidências contra Light.

Uma constante nesse pedaço da história é o moralismo absoluto de Yagami pai e Yagami filho. Se o L propõe algo que não seja “tentar parar as mortes”, eles já reclamam, sem perceber que a captura de Kira será muito mais eficiente do que a tentativa de parar as mortes por um tempo ou impedir que algumas pessoas sejam atingidas. Esse comportamento, especialmente do Soichiro, me cansa.

Em meio ao questionamento acerca da natureza “inacusável” de um assassino que mata por pensamento, o raciocínio de Aizawa (transmitido por Matsuda) é lógico. Se Kira matou investigadores, é porque existem evidências contra ele e estas evidências podem ser encontradas por um policial comum.

Inicialmente, não entendi a lógica da dedução de quem do “conselho Yotsuba” seria o Kira, mas, com um pouco de boa vontade, compreendi. O pensamento é algo como “Kira é meio burro, por isso não deve ser alguém que aparentemente poderia ser Kira sozinho, já que tal pessoa não precisaria das reuniões para decidir o que fazer.”

Um detalhe que alguns fãs de Death Note deixam passar é que quando L diz que Light poderia sucedê-lo, é apenas mais um teste para checar se Light é Kira e está fingindo. Light percebeu sua intenção e explicou o palpite certeiro de L: “Light desistiu do poder Kira temporariamente para se provar inocente e depois pegá-lo de volta”. É inconcebível para L estar na pista errada desde o início, então ele age num misto de crença e torcida.

Um grande problema para o núcleo Yotsuba é que não ligo para os oito, pois não tive tempo de criar conexão emocional com eles. São apenas nomes e marionetes de um Kira com o qual pouco me importo. Isso é frequente com personagens que são apresentados em sequência, e costuma aparecer mais em mangás de ação.

Se L já tinha uma das mãos na Yotsuba através de “Erald Coil”, a infiltração da Misa como uma falsa pista até ele foi a completa dominação do conselho Yotsuba. Já tendo provas suficientes para condená-los por assassinato, era apenas uma questão de L descobrir como Kira mata, e assim encontrá-lo antes de anunciar a prisão dos demais.

O jogo de polícia e ladrão atingiu um nível razoável, com a expectativa de L descobrir o Death Note, porém, Tsugumi Ohba jogou tudo o que havia construído no lixo.

Como que para chamar o leitor de otário, a Rem, sem ser parte do plano do Light, esclareceu tudo para Misa, que voltou a agir como Segundo Kira, apesar de não ter suas memórias nem o Death Note. Depois de tanta investigação, ela surgiu como um shinigami ex machina e revelou quem é o Kira, como se isso fosse algo muito interessante e para o qual todo leitor nutrisse altas expectativas.

Eu mencionei na resenha do vol. 5 que Death Note é um mangá de conflito intelectual. Sem o Kira original, o arco Yotsuba só se sustenta pelo mistério e pelos pequenos avanços no “plot macro”, que seria o plano do Light. Com esse Deus ex machina, o arco perde ainda mais peso e se torna um fardo maior a cada página que viro. É frustrante saber que eu perdi meu tempo lendo a investigação para no fim a Rem chegar e entregar a cabeça do Higushi em uma bandeja de prata.

Em certo momento, Light refletiu sobre a diferença entre o julgamento do Kira original e a matança sem critério do Terceiro Kira, concluindo que o método do Kira original é bem próximo de seus ideais. Mais uma vez, ele não disse isso para L, aparentemente se colocando como um parceiro não absoluto.

O Terceiro Kira, Higushi, é um velho babão e ganancioso. Sem dificuldades, Misa o enrolou, conseguiu uma confissão e a evidência dos dias sem mortes para provar que ele era o Kira. Com um Kira desses, fica fácil ser o L. E por falar em L, ele percebeu uma alteração no comportamento de Misa.

Havia duas possibilidades, ou o poder Kira é transferido por vontade do portador ou por vontade de uma entidade. L e Light deduziram que a transferência é feita de acordo com a vontade do portador, do contrário, Light não demoraria a deixar de ser Kira, ou mesmo Misa. O plano de perder as memórias faz Light ser cada vez mais suspeito, algo padrão em suas atitudes no decorrer de Death Note.

Graças à ajuda de Aizawa/polícia japonesa, o plano genial da dupla detetivesca e o sniper Watari, Higushi ficou feito uma barata tonta e foi capturado. Destaco o tiro cirúrgico de Watari, que impediu o suicídio de Higushi.

O lado bom deste volume 6 é o dinamismo, a ação que se contrapõe à monotonia às vezes irritante de Death Note. Ainda assim, é um volume chato que deixa um gostinho de “finalmente L vai descobrir o Death Note”.

A pessoa em posse do caderno será seguida por um shinigami até morrer. Esse shinigami deve escrever o nome da pessoa em seu próprio caderno (caso tenha mais de um), na hora da morte dela

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