Crítica | Os Canibais (2018): mal aproveitado


Ficha técnica no IMDb

Um jovem casal é sequestrado e tratado como animais após pararem para jantar em um restaurante de beira de estrada.

A adaptação do nome do filme foi horrível. É normal os títulos precisarem de adaptações para manter o sentido original, mas, neste caso, fizeram foi distorcer a ideia base da história, a qual é muito boa. “Os Canibais” é um grande spoiler e contribui para o maior erro do filme: a ambientação pretensamente aterrorizante.

O começo é um grande exemplo disso. De forma patética, os protagonistas param em alguns lugares sinistros e agem como se eles pudessem ser seguros, mesmo que tudo esteja vazio, parado e aparentemente deserto. Os Canibais deixa claro que algo tenebroso se aproxima, e isto estraga a nossa expectativa.

Estraga porque tira o elemento surpresa da revelação e fortalece o nosso distanciamento dos protagonistas, já que o filme não foca em trabalhar o drama do casal. Eles são separados, o homem some, surge magicamente solto, acha magicamente a mulher e a solta, só para depois morrer.

Depois de jogar fora um personagem que me importava, o filme tenta estabelecer como parceiro de fuga da protagonista uma personagem que veio depois. Outro problema da fuga é ter sido planejada pelos vilões, o que, desde o início da cena, já não me enchia de esperança.

Além disso, por mais que os vilões no ônibus seja assustador, existe um terrível salto temporal que esconde a captura das sobreviventes, sendo que elas tinham margem para mais uma fuga. Para fechar com chave de lixo o final, existe uma cena, praticamente estática, que funciona como uma Santa Ceia. É como se fechassem Os Canibais com a foto bonitinha que fizeram para o pôster. Só isso.

A narrativa é fraca porque o filme não consegue construir um medo, uma tensão pela protagonista. O resultado é que, durante a maior parte do filme, eu não me importo com o que está acontecendo. E por isso Os Canibais é ruim. Mas, ainda há o problema do mau aproveitamento.

A ideia base do filme é ter uma fazenda de humanos (daí o título The Farm). Em vez de trabalhar o terror psicológico de a protagonista estar sendo tratada como gado, Os Canibais prefere focar em pessoas com máscaras de animais que não falam nunca, ou seja, seriais killers comuns, não fazendeiros. Fora que não faz sentido usarem máscara o tempo todo.

Não vemos um modo de produção de carne análogo ao que é feito com gado, o que casaria perfeitamente com o tema do filme: uma fazenda que produz refeições para canibais. Infelizmente, o que poderia ser uma história diferenciada acabou como só mais um filme qualquer coisa.

O pôster do filme é um spoiler e a sinopse dele está errada. O casal não é pego depois de parar para comer carne, fora que não existe tanto interesse em mostrar eles sendo tratados como animais (o que tornaria o filme bem mais interessante).

Destaco duas cenas estranhas: a protagonista recebe uma agulhada que não dá para saber onde foi, se injetou ou se tirou e, no fim, o protagonista é pego por uma armadilha que só é mostrada com a câmera tremendo, o que me fez não entender o que era.

Os Canibais é um filme fraco, com uma boa ideia que não quis usar. A pior parte é o título em português e o pôster.

Observação: o filme pode ser uma crítica à crueldade com animais, mas o diretor conseguiu que esta ótima temática fosse apenas um adereço eventual. Isso não é culpa de orçamento apertado, isso é incompetência.


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